A construção do racismo a partir da grande política da linguagem
"[...] Finalizo esta escrita sugerindo e recomendando que possamos pensar sobre a linguagem, pois, é através do que nós afirmamos, produzimos, e que expressamos a nossa subjetividade..."
A linguagem é um sistema simbólico tipicamente humano, sendo uma das mais importantes aquisições deste grupo. Para Chomsky, a organização da linguagem em estruturas profundas seria compartilhada por todas as línguas humanas – constituindo os universos linguísticos.
O valor social da língua é um mecanismo criado pela estratificação social e ao mesmo tempo um mecanismo de manutenção dessa estratificação. Não há como existir uma língua não estratificada em uma sociedade estratificada, uma vez que ela surge e se desenvolve pelas necessidades sociais.
Desta forma a linguagem tem um papel importante nos processos de comunicação, e esta comunicação sofre a aquiescência dos modos que operam a sociedade, e sendo estes panópticos de controle, docilização, e criação de conceitos que servirão aos interesses de grupos dominantes.
Amalgamente a linguagem acaba por si só cristalizando valores morais que serão referência aos grupos dominados. É nesta toada que a linguagem vem como instrumento de dominação, e sequestro do sujeito parafraseando Foucault. É neste ponto de bifurcação que e a sociedade enquanto um todo recebe a produção de subjetivação de como fazer o verbo entrar em ação, segundo Bourdieu é neste momento que a dominação impõe-se nos grupos minoritários, não só do ponto de vista racial, mas também de gênero, ou seja, mulher, homossexuais, pobres, em suma tudo que for diferente e singular.
A linguagem é escatologicamente usada como instrumento de controle, de exclusão, e eliminação do outro que não estiver adequado aos padrões reverberados pelos grupos dominantes, portanto, estabelecer-se-ão campos de força um tanto perigosos. Usa-se-ia a linguagem como biopoder parafraseando Foucault, como mote de dominação, espoliamento e sequestro das produções de subjetivação do outro.
Historicamente sabemos que o homem branco, Europeu escravizou os povos do continente Africano, e para poder justificar essa ação hedionda criou-se a narrativa através da linguagem para poder explicar, bem como justificar esse absurdo, assim posto, neste período pretérito até hoje na contemporaneidade ainda temos, e sofremos desta herança maldita denominada escravização, tristemente este fulco está arraigado na ontologia humana, desde os povos mesopotâmicos o homem tem essa característica de querer escravizar grupos para o seu próprio benefício, às diferenças é que no período histórico dos mesopotâmicos quem tornava-se escravo eram os povos que perdiam às suas guerras.
A grande política da linguagem entra como um modus operandi sofisticado para cercear às subjetividades dos sujeitos, criando assim um valor único, uma regra padrão de distinção, a serviço dos interesses daqueles que querem dominar o rebanho, pois, é assim que os grupos dominantes agem quando usam destes mecanismos para sequestrar às produções de subjetivação singulares de cada sujeito.
O racismo estrutural está posto na linguagem há muito tempo, e a sociedade reproduz essa produção de subjetivação há muito tempo, e claramente, não percebe que é na linguagem que o racismo afirma-se, por exemplo, quando qualquer pessoa passa circunstâncias em que tem a sua honra ofendida, ele poderá reverberar a seguinte palavra: "... Estão denegrindo-me…" aí está um exemplo dentre tantos que possuímos para denotar que a linguagem estabelece um valor a palavra utilizada.. ou seja, quando estou atentando contra a honra de alguém é algo de origem "negra", só foi incluído a preposição "de".. comumente dizemos que quanto às coisas estão difíceis, e/ou ruim verbalizamos: " a coisa está preta", já paramos para pensar por quê??, provoco pensar além, sem respostas simplistas, e/ou do sensu comum, provoco cada qual perscrutar as razões deste mote..
Finalizo esta escrita sugerindo e recomendando que possamos pensar sobre a linguagem, pois, é através do que nós afirmamos, produzimos, e que expressamos a nossa subjetividade, os assujeitamentos, e tudo que iremos efetuar em nossas vidas enquanto viventes, caso tenhamos o desejo de pensar, e entendo que devemos pensar sobre o racismo, e a sua estrutura, é indubitável que tenhamos que perscrutar a linguagem, não trata-se-ia de revisionismo da linguagem,mas outrossim a ressignificação do que produzimos enquanto linguagem, pois, a máxima da linguagem far-se-á em ação.
Gustavo Moraes
Servidor Público municipal e federal